At 9 – 10
At 9: 4 – “e, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?”
A igreja crescia e encontrava várias barreiras para atrapalhar a caminhada dos irmãos. Mas tudo que vinha como perseguição servia como estímulo para prosseguir. Saulo surge como um grande perseguidor dos discípulos e eu fico imaginando o quanto a igreja não orou por essa situação, mas ao mesmo tempo fico imaginando o que passava no coração de Saulo, mas acho que as duas coisas foram decisivas para que Deus agisse com misericórdia, já que o Senhor escuta a oração do seu povo (II Crônicas 7: 14) e Deus não resiste a um coração contrito (II Crônicas 16: 9; Salmos 51: 17).
Deus via em sua noiva disposição de se santificar e agradá-Lo acima de tudo, então Ele tinha liberdade para manifestar seu poder como no caso da ressurreição de Dorcas (At 9: 36 – 41) e para trazer revelação como a visão de Pedro e a conversão de Cornélio, sua família e seus amigos mais íntimos, de forma que o Senhor levou a salvação também aos gentios, algo que aparentemente causaria escândalo aos judeus, mas eles estavam sensíveis ao mover do Espírito e Deus pode gerar grande santificação no meio deles. Essa é a unidade que Deus quer ter com sua igreja, como o próprio Deus falou com Saulo em sua conversão: “porque me persegues?”, pois Ele e a igreja são um.
APERFEIÇOADOS NA UNIDADE
“Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles e tu em mim, a fim de que sejam APERFEIÇOADOS NA UNIDADE…” (Jo 17.22-23)
“Se há, pois, alguma exortação em Cristo, alguma consolação de amor, alguma comunhão do Espírito, se há entranhados afetos e misericórdias, contemplai a minha alegria de modo que penseis a mesma cousa…TENDE EM VÓS O MESMO SENTIMENTO QUE HOUVE TAMBÉM EM CRISTO JESUS, pois ele…” (Fp 2.1-8).
1. AS DENOMINAÇÕES E A DIVISÃO DA IGREJA
A tendência hoje, quando se pensa no problema da divisão da igreja, é de relacioná-lo imediatamente às denominações. Isto, de uma certa maneira, é natural, porque na verdade, a denominação ”e a oficialização da divisão. A denominação sacramenta e legaliza a divisão, tornando-a aceitável (que podemos fazer? Foi sempre assim!). Com a institucionalização das denominações, a divisão deixa de ser um pecado (que deve ser abandonado) e se torna um “mal necessário”.
Há muitas formas pelas quais a carne, a sabedoria humana, a vanglória e os interesses do homem se misturam nos negócios do reino de Deus. Ao pensar nessas coisas nossa tendência é apontar imediatamente as denominações; isto porque nelas não apenas existem interesses humanos, mas estes são amplamente defendidos e amparados pela estrutura. Neste contexto, as coisas da carne são aceitáveis; há uma sacramentalização do orgulho (as glórias da minha igreja), e a defesa dos interesses humanos é justificada. Ali, o homem que busca engrandecimento, posição ou reconhecimento, encontra muitas vezes não só terreno aberto mas incentivo e apoio institucional para levar adiante os seus interesses.
Em contraste, na pureza do reino de Deus, sempre que o homem quiser progredir só encontrará um caminho: humilhar-se, ser servo, esvaziar-se e ficar em último lugar.
Meu objetivo aqui não é o de atacar as denominações; pelo contrário, gostaria de ver em todos os setores daqueles que buscam a restauração da igreja uma disposição renovada de amor e humildade para com todos os irmãos que estão nas denominações.
Não devemos ser apressados nem superficiais em julgar esta questão. O problema é bem mais amplo e complexo. As respostas não põem ser simplistas, sem análise e sem autocrítica. A pergunta é: o problema a divisão é exclusivamente das denominações? Se fugirmos do denominacionalismo estamos seguramente evitando cooperar com a divisão?
2. A DIVISÃO SEM A DENOMINAÇÃO
Eu creio que a resposta às perguntas acima é… NÃO!
Podemos ter a idéia de que se não formarmos uma denominação estamos livres de tudo isto, mas este é um engano. Ainda que não aceitemos estas coisas (da carne) abertamente, nem as oficializemos, elas podem, assim mesmo, estar amplamente disseminadas no nosso meio. Há grupos que são adenominacionais, e, entretanto, são mais fechados, orgulhosos e auto-promovedores do que muitas denominações. Podemos estar cheios de ESPÍRITO COMPETITIVO NÃO REGISTRADO EM CARTÓRIO, e ele é tão mau ou pior do que o denominacionalismo.
Se não vivemos numa estrutura tipicamente denominacional, teremos maior limitação exterior à manifestação dos interesses da carne, mas de forma alguma estaremos livres; pelo contrário, a carne com suas sutilezas poderá levantar-se de tal forma que os menos avisados nada perceberão, e o que é pior, a própria pessoa que questão muitas vezes não se dará conta. Aqueles que cremos na restauração da igreja, corremos o grande risco de ser os mentores de uma divisão não registrada e não denominada.
3. O PROBLEMA FUNDAMENTAL É INTERIOR
Já é do conhecimento de muitos (e muitas vezes se afirma), que a denominação não está no nome, mas no coração. Na verdade, a colocação de um nome (ou denominacionalizar), não é o problema básico, mas a conseqüência de um problema interior, no coração (a necessidade de expressar uma identidade específica de uma determinada facção do corpo além da identidade comum a todos de serem filhos de Deus, de pertencerem a igreja; ou a necessidade de mostrar a expansão de um reino particular, a competição, etc..). Ora, se denominacionalizar não é o problema, mas a conseqüência de um problema interior, o que deve ser tratado em primeiro lugar não é a conseqüência externa, mas a causa, o problema interior. Tratando este desaparece aquela. Tratando-se do problema interior (gerador de divisões), não só vai desaparecer o denominacionalismo aberto, mas também, todas as formas mais sutis de divisão e carnalidade.
4. UNIDADE: A ÚNICA PROVA DE UM CORAÇÃO PURO
DIVISÃO = EXPRESSÃO DE CARNALIDADE (1 Co 3.1-4) e REVELAÇÃO DOS MAUS DESÍGNIOS DO CORAÇÃO.
UNIDADE = EXPRESSÃO DA MATURIDADE (PERFEIÇÃO).
Há muitas coisas que confirmam e testificam da obra do Senhor em nossas vidas. Mas a única realidade visível que pode testificar a pureza do coração é a unidade. (Exemplo: a trindade). Não existe nada mais exigente do que a unidade. Nada pode exigir mais quebrantamento, mais operação da cruz, mais purificação do coração, do que o esforço para preservar a unidade do Espírito e buscar a unidade da fé. Na verdade, o preço é tal, que a grande maioria nem quer ouvir falar, e alguns que começam animadamente, depois de um tempo preferem se aliviar da cruz e desobedecer ao Senhor.
A unidade não é apenas uma “coisa certa” para fazer mas é o ponto vital da restauração da igreja. Não podemos pretender forçar o Espírito Santo a copiar modelos de avivamento do passado. Restauração é muito mais do que avivamento. O que Deus quer fazer não é um avivamento provocado pelo ministério de um homem ou de um grupo, mas uma restauração da igreja que se expressa em cada local, em cada cidade do Brasil, e do mundo, levantando todos os que são dele para uma cooperação mútua, para uma vida de corpo. Haverá restauração sem unidade? Não tenhamos pretensão: podemos crescer em vários aspectos (números, ministérios, dons, projetos, etc..), mas SOMENTE A UNIDADE VAI REVELAR QUE OS NOSSOS CORAÇÕES SÃO PUROS PARA O SENHOR. SE AINDA NÃO SOMOS PERFEITOS NA UNIDADE É PORQUE AINDA NÃO SOMOS PERFEITOS NO CORAÇÃO.
5. AVALIANDO AS INTENÇÕES DO CORAÇÃO
“Ai dos que escondem profundamente o SEU PROPÓSITO do Senhor” (Is 29.15).
“No dia em que Deus, por meio de Jesus Cristo, julgar OS SEGREDOS DOS HOMENS” (Rm 2.16).
“Portanto, nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não somente trará à plena luz as cousas ocultas das trevas, MAS TAMBÉM MANIFESTARÁ OS DESÍGNIOS DOS CORAÇÕES; e então cada um receberá o seu louvor da parte de Deus” (2Co 4.5).
“Sobre tudo o que se deve guardar, GUARDA O TEU CORAÇÃO, porque dele procedem as fontes da vida” (Pv 4.23).
Em nossa posição como líderes na casa de Deus, temos uma tarefa urgente (quem não a iniciou deve começar e quem já começou deve continuar intensamente). Esta tarefa é: AVALIAR MINHAS MOTIVAÇÕES (DESEJOS E DESÍGNIOS DO MEU CORAÇÃO) SOB A REVELAÇÃO DA PALAVRA E DEBAIXO DA DISCIPLINA DO ESPIRITO SANTO.
Temos que dar a este assunto tanta importância como o Senhor está dando em sua palavra. Ao fim de tudo, o que conta para o Senhor são os propósitos de nosso coração.
A pergunta mais importante que eu tenho de fazer não é: “O que estou fazendo?”, ou “Quanto estou fazendo?”, ou “Estou fazendo bem feito?”, ou ainda “Estou fazendo da maneira correta?”. Embora todas essas indagações e avaliações sejam muitíssimo importantes, há algo mais básico e há uma pergunta mais importante: “Por que estou fazendo?” ou “Que me move?”, “Quais são os desígnios de meu coração?”, ou ainda “Na realidade, que me motiva a fazer o que eu faço?”.
Para explicar melhor quero lançar mão das palavras de Jorge Himitian em seu estudo: “O homem em seu íntimo”.
Todas as coisas estão descobertas àquele a quem temos de dar conta. Assim como os homens vêem a minha cara, a cor de meus olhos; há alguém que com absoluta e total nitidez vê meu espírito e me conhece totalmente. E o que está em meu espírito? Os pensamentos mais secretos de meu coração e as intenções do meu coração.
Nesse lugar tão íntimo, no mais profundo do meu ser, que intenção eu tenho na vida? Quais são os pensamentos íntimos que prevalecem em mim? Deus sabe. Quero explicar isto com toda clareza: A intenção mais profunda em meu coração pode apontar para mim ou para Deus.
É tão claro e tão profundo como isso: EU ou DEUS. Estas são as duas únicas alternativas que podem haver na intenção do meu coração. Na formação de um servo de Deus, esta é a definição mais séria e profunda que se deve enfrentar. O que busco em minha vida? Qual é a minha intenção em tudo o que faço? Minha glória ou a glória do Senhor?
O fim supremo do homem é a glória de Deus. Fomos predestinados para o louvor da sua glória (Ef 1.11-12). Se queremos enfocar bem nossa vida, e orientar-nos bem, aí em nosso íntimo, em nosso coração, devemos com toda a determinação estabelecer que a intenção de nossa vida deve ser unicamente Deus.
E disso não necessito convencer os homens, mas Deus. Não é de muito valor que sobre isso testifique ou ore publicamente. Deus olha o que há em meu coração e não se impressiona com minhas palavras. Ali, em meu espírito há uma bússola que está apontada para… ou para Deus; para minha realização pessoal ou para a glória de Deus; para minha vontade ou sua vontade? eu ou Ele. E os dois não podem ser.
Este é o sentido mais profundo daquilo que Jesus ensinou ao dizer: “negue-se a si mesmo”. O básico em nossas vidas é isto: que o norte de nossa bússola seja orientado bem definidamente para Deus. O resto será fácil.
Irmãos, se cremos nestas palavras, devemos então concordar que a tarefa mais importante que temos é a de constantemente avaliarmos as intenções de nosso coração. Porque eu estou onde estou? Porque faço que faço? Confesso que quando comecei esta prática fiquei tremendamente envergonhado e abalado porque percebi que meus melhores serviços e minhas melhores práticas estavam completamente estragados.
E não pensemos que é suficiente fazermos esta avaliação uma ou duas vezes, porque há um perigo muito sutil: ocorre que mesmo quando temos uma motivação pura e uma intenção sincera no coração, totalmente voltados para Deus, mesmo assim, com o tempo pode surgir uma mescla em nosso coração, uma mistura de motivações. É necessário, portanto, uma avaliação constante, uma luta constante; é necessário dar ao assunto a mesma importância que Deus dá. Ele diz:
“…serve-o de CORAÇÃO ÍNTEGRO e alma voluntária; porque o Senhor esquadrinha todos os corações e penetra todos os desígnios do pensamento”.
Os pastores em Salvador, têm convicção de que neste assunto, das intenções do coração, estão fundamentados todos os problemas nas relações na igreja, nas relações entre pastores e nas divisões decorrentes. As motivações impuras são a principal causa de toda divisão na igreja.
É impressionante como os interesses da carne se misturam nos negócios do reino de Deus. Os discípulos de Jesus queriam ser os primeiros (Mt 20.20-28) e nem sequer se davam conta da maldade de seu coração. João fala de um tal de Diótrefes (3Jo 9) que gostava de exercer a primazia. Paulo faz uma afirmação incrível aos filipenses (Fp 2.20-21) quando pensa em enviar-lhes Timóteo e diz:
“…porque a ninguém tenho de igual sentimento, que sinceramente cuide de vossos interesses; pois todos eles BUSCAM O QUE É SEU PRÓPRIO, não o que é de Cristo Jesus”.
Só havia Timóteo! Que escassez de homens com a motivação pura!
6. A ENGANOSIDADE DO CORAÇÃO
O maior problema é que alguns pensam que não tem muito que lutar nesta área; pensam de si mesmos que são perfeitos quanto a isto. Mas eu não gostaria de avisar. No que se refere as motivações do coração ninguém se tranqüilize tão precipitadamente; antes é bom sempre mantermos uma boa dose de desconfiança a cerca de nós mesmos como fizerem os discípulos de Jesus depois de serem tantas vezes confrontados: “porventura sou eu Senhor?” (Mt 26.22); ou como Paulo em 1Co 4.4:
“…porque de nada me argüi a consciência; CONTUDO, NEM POR ISSO ME DOU POR JUSTIFICADO, pois quem me julga é o Senhor”.
A palavra em Jeremias 17.9 chega a ser assustadora:
ENGANOSO É O CORAÇÃO, mais do que todas cousas, e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá?”
Quando fala desesperadamente, está implícito uma situação em que alguém tinha esperanças a respeito de seu coração, mas se enganou; depois, quando se descobriu, ficou desesperado.
O seguinte trecho foi escrito por Jorge Muller, conhecido como o apóstolo da fé: “Sinto constantemente a minha necessidade…Não posso fazer sozinho, sem cair nas garras de Satanás. O orgulho, a incredulidade ou outros pecados me levariam à ruína. Que nenhum leitor pense que devido a minha dedicação, eu não posso me “inchar” ou me orgulhar…”
Keith Bentson disse que são poucos os homens que realmente chegam a se conhecer. Será que não é porque poucos dão atenção à questão de avaliar as suas motivações? Para que não vivamos enganados devemos buscar em Deus o conhecermos a nós mesmos.
7. A REVELAÇÃO DO CORAÇÃO PELA PALAVRA
“Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, E APTA PARA DISCERNIR OS PENSAMENTOS E PROPÓSITOS DO CORAÇÃO” (Hb 4.12).
A Palavra (logos), que é o verbo eterno, é o próprio Jesus Cristo. Na medida que crescemos no conhecimento de Jesus Cristo, que é a encarnação da Palavra, também vamos crescendo no conhecimento de nosso próprio coração e seus propósitos. O Salmista diz:
“diante de ti puseste as nossas iniquidades, e sob a luz do teu rosto os nossos pecados ocultos” (Sl 90.8), e:
“na tua luz veremos a luz” (Sl 36.9), e ainda:
“faça resplandecer sobre nós o seu rosto”(Sl 67.1), e mais:
“Quem nos dará a conhecer o bem? Senhor, levanta sobre nós a luz do teu rosto” (Sl 4.6).
Estes salmos nos falam do conhecimento que Deus tem de nosso interior mais oculto. A esse atributo perscrutador, esquadrinhador e revelador o salmista se refere como “a luz do teu rosto”. Mas o importante é que essa luz pode resplandecer sobre nós, para que também tenhamos revelação e possamos conhecer o bem.
Quero definir de uma maneira prática e simples: Ao contemplar a face do Senhor somos iluminados e se desvendam e se revelam as intenções do nosso coração; e somos também tratados e purificados. O que quero salientar aqui é que de um modo prático, quando conhecemos mais de Deus em Jesus Cristo, também conhecemos mais de nós mesmos e de nosso coração.
Agora: quando contemplo a Jesus o que vejo de mais impressionante nele? Não é o seu poder milagroso, nem as suas palavras sábias, nem mesmo a sua bondade (embora tudo nele seja admirável); entretanto, o mais impressionante, belo e admirável no Senhor (e que possibilita que ele seja tudo o mais que ele é) é a sua disposição de, mesmo sendo o Senhor e criador de todas as cousas, ser o último; não apenas ele entrega toda a honra ao Pai, mas ainda na terra, entre os homens, se tornou o último, perdeu todo o reconhecimento a ponto de ser desprezado de todos. Simplesmente o último dos homens, e por escolha própria.
E ISTO TUDO É QUE NOS ENVERGONHA; porque contemplamos um contraste com o nosso coração, então temos uma nova luz sobre nós mesmos e nosso interior, nossas motivações.
Será que podemos ver a liderança da igreja hoje, como uma companhia de homens, correndo muito ansiosamente em busca do último lugar?
Na verdade, isto deve ser uma realidade para toda a igreja, e enquanto não for assim, o mundo não verá que somos como JESUS É UM COM O PAI. A unidade depende desta disposição de coração. SEM ISTO NÃO HAVERÁ UNIDADE, MAS APENAS UM POUCO DE RESPEITO MÚTUO.
Ao ver esta disposição de coração de Jesus, muitas vezes me senti envergonhado e com meu coração descoberto, mas graça a Deus que não é só isto, pois a palavra também diz:
“Todos nós com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, SOMOS TRANSFORMADOS DE GLÓRIA EM GLÓRIA, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”.
Na medida em que o nosso coração é descoberto pela luz de Deus, é então que somos tratados e purificados.
8. A REVELAÇÃO DO CORAÇÃO PELA DISCIPLINA DO ESPÍRITO SANTO.
“Sonda-me, ó Deus, e CONHECE O MEU CORAÇÃO; prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno”. (Sl 139.23-24).
“Como águas profundas são OS PROPÓSITOS DO CORAÇÃO DO HOMEM, mas o homem de inteligência sabe descobri-los”. (Pv 20.5)
O Senhor não apenas sonda o coração, mas, também, prova-o para que o possamos conhecer e ser guiados por Deus. Por mais enganoso que seja o coração, é possível descobri-lo se atentamos a maneira com que o Senhor prova.
Ver o exemplo de Ezequias (2Cr 29-32; 2Rs 18-20; Is 36-39);
“Mas não correspondeu Ezequias aos benefícios que lhe foram feitos; pois SEU CORAÇÃO SE EXALTOU. Pelo que houve ira contra ele, e contra Judá e Jerusalém”. (2 Cr 32.25)
“…Deus o desamparou, para prová-lo e fazê-lo CONHECER TUDO O QUE ESTAVA NO CORAÇÃO”. (2Cr 32.31).
* A profecia de Isaías (2Rs 20.17-18).
* Ver a reação de Ezequias (2Rs 20.19) e comparar com Davi (Sl 132.3-5)
Também o Senhor vai provar-nos para fazer-nos conhecer a nós mesmos. Vejamos algumas situações em que somos provados:
* Quando falam mal de nós;
* Quando falam mal de nós injustamente;
* Quando não nos dão o reconhecimento que esperamos;
* Quando faço algo de bom que por engano é atribuído a outro;
* Quando outros são elogiados por algo que já estou praticando a muito tempo.
* Quando outros descobrem e vem ensinar-nos coisas que já sabíamos.
* Quando ouvimos sobre o sucesso de outros.
* Ou quando somos elogiados (Pv 27.21)
* Quando o nosso ministério é preterido ao de outros.
Cada situação que surge pode revelar algo de nosso coração, mas também pode servir para purificação. Exemplo: Numa situação em que outro é honrado e eu sou deixado de lado; pode vir a inveja, então:
– revela as intenções (quero honra e reconhecimento)
– é oportunidade para purificação (pelo arrependimento e confissão)
* Também somos provados quando louvamos ao Senhor (porque o louvor sincero é o inverso de auto-glorificação). O louvor destrona o eu e coloca o Senhor no trono. Não podemos louvar sinceramente ao Senhor com desejos de glória no coração.
* Quando se desenvolve a obra e somos procurados por muitos irmãos que estão sob o cuidado de outros pastores.
* Seremos provados principalmente na relação de companheirismo entre iguais. Nunca vou querer competir com aqueles que estão acima de mim; acho natural dar-lhes a primazia. Também não terei problema com aqueles que vêm depois de mim, que estão sob meu cuidado, mas serei tentado a competir com aquele que está ao meu lado. É fácil se submeter (e honrar) a alguém que está acima de nós (funcionalmente falando); também é muito fácil se submeter a uma estrutura hierárquica, mas se submeter (e honrar e preferir) a um que está ao meu lado, que é como eu, com as mesmas fraquezas que eu tenho! Para isso será necessária uma maior operação da graça de Deus.
9. BUSCANDO O MESMO SENTIMENTO DE JESUS
“Tende em vós o mesmo sentimento…”
Creio que o primeiro passo a dar é: Buscar no Senhor, ter um sincero desejo no coração de simplesmente ser o último. Um irmão desconhecido deixou escrito a seguinte e impressionante oração:
“O Jesus, manso e humilde de coração, ouve-me
Livra-me, Jesus do desejo de ser estimado,
do desejo de ser amado,
do desejo de ser exaltado,
do desejo de ser honrado,
do desejo de ser louvado,
do desejo de ser preferido a outros,
do desejo de ser consultado,
do desejo de ser aprovado,
do medo de ser humilhado,
do medo de ser repreendido,
do medo de ser esquecido,
do medo de ser ridicularizado,
do medo de ser prejudicado,
do medo de ser alvo de suspeitas,
E, Jesus, concede-me a graça de desejar
que outros possam ser mais amados do que eu,
que outros possam ser mais estimados do que eu,
que na opinião do mundo
outros possam crescer e eu diminuir,
que outros possam ser escolhidos e eu posto de parte,
que outros possam ser louvados e eu passe despercebido,
que outros possam ser preferidos a mim em tudo,
que outros possam tornar-se mais santos do que eu,
contanto que eu torne tão santo quanto devo ser”.
Podemos orar assim com sinceridade? Que tremendo seria se todos estivéssemos impregnados desse espírito!
Como posso buscar um sentimento? Muitas vezes eu busco um sentimento ou uma disposição de coração, e tudo o que eu alcanço é uma descoberta de que meu sentimento e minha disposição são exatamente opostos aquilo que busco. Que fazer então?
Se Deus prometeu transformar meu coração, por que então ainda há nele uma disposição contrária a sua vontade? A resposta é simples: É verdade que Deus nos deu um coração novo, mas agora, este coração necessita ser exercitado na cruz de Jesus Cristo. Assim como a fé que recebo em Jesus Cristo para o arrependimento e o perdão dos pecados não é suficiente para seguir crescendo no Senhor (isto é, preciso crescer na fé), assim também, o tomar a cruz e negar-se a si mesmo do princípio, não é suficiente para ser semelhante a Jesus; necessito seguir me esvaziando. Assim, a cruz deixa de ser uma realidade mística, invisível e subjetiva, para ser uma realidade simples, palpável, objetiva e prática, quando eu simplesmente me esforço para que os outros tenham mais, sejam melhores e venham antes de mim.
Antes que meus sentimento mudem, eu posso mudar meus atos. Não posso comandar meus sentimentos, mas posso controlar e corrigir minhas ações, orar ao Senhor, confessar, e ver Deus transformando o meu coração.
Larry Christenson, ao falar sobre sentimentos, usa a seguinte ilustração:
Pensemos por instantes nas formas de madeira que os construtores utilizam, e as quais derramam a massa de cimento para obter as vigas de concreto. Essas armações nos dão o formato e a dimensão que a viga terá. Depois que o concreto se consolida, as tábuas de madeira são retiradas, ficando apenas o cimento firme. Elas tiveram função temporária, ao passo que o cimento é permanente.
Aquelas tábuas de madeira representam o papel do cristão na obra de santificação. Ele próprio não se enche de paciência, bondade e amor. Ele simplesmente monta as formas nas quais Deus derramará a sua obra duradoura de santidade.
“Nada façais por partidarismo, ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros”.
Embora o assunto de L.C. seja mais abrangente (está falando de santidade em geral), a ilustração nos serve porque a forma nos fala de uma ação concreta, enquanto o concreto que vai dentro nos fala do “mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus”.
Gostaria de sugerir algumas “tábuas” para fazer as formas:
Estas são sugestões que devem ser colocadas em prática principalmente na relação com os colegas de ministérios, e mais ainda com os que estão ao nosso lado:
1. Cuidar com as atitudes que venham a fazê-lo sentir-se ameaçado em sua posição ministerial ou como homem.
2. Não discutir com ele diante dos outros. Não desfazer sua opinião diante dos outros.
3. Não permitir que suas falhas fiquem visíveis aos outros (não mostrá-las; escondê-las).
4. Ceder, sempre que haja uma controvérsia que envolva interesses próprios.
5. Tratar sua esposa com todo respeito, recato e amor.
6. Honrá-lo e elevá-lo diante dos discípulos. Elogiá-los a outros. Salientar as suas virtudes. Buscar que seu ministério seja reconhecido.
7. Reconhecer a graça de Deus em seu ministério.
8. Buscar que esteja bem, que esteja seguro, que se sinta capaz.
9. Compartilhar (dividir) com ele as novas áreas (portas) de ministério que se abrem para mim.
10. Entender que na hora em que surge um conflito ou uma crise, não devo dar atenção a meu sentimento interior mas tomar a cruz e perder.
Tudo isto é mais fácil de dizer do que fazer, mas:
“aquele que completou sua obra em vós, há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus”.