“Vós sois as minhas testemunhas, diz o Senhor, o meu servo a quem escolhi; para que saibais, e me creiais, e entendais que sou eu mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá.” (Isaías 43:10)

“O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida (e a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos testemunho, e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi manifestada), o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós, igualmente, mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo.” (I João 1:1-3)

O que Deus anunciou aos profetas e se confirmou na vida de Jesus não apenas aponta sua divindade, como revela sua unicidade. Mas porque uma verdade tão simples e óbvia se viu ameaçada tantas vezes no curso da história? Bem, em primeiro lugar, vale lembrar que Deus mostra sua misericórdia também se revelando a todas as gerações, como diz Paulo: “o qual, nas gerações passadas, permitiu que todos os povos andassem nos seus próprios caminhos; contudo, não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas, enchendo o vosso coração de fartura e de alegria.” (Atos 14:16-17). No entanto, mentiras e sofismas surgiram em diversos momentos desviando o foco das pessoas em buscar a Deus.

O livro O Fator Melquisedeque de Don Richardson conta como no século XIX surgiu uma onda de eruditismo. Um inglês chamado Edward B Taylor, influenciado por Charles Darwin, propôs uma teoria de que a alma humana deveria ter sido o embrião natural do pensamento e dos conceitos religiosos. Em resumo, o conceito da alma poderia ter surgido em povos primitivos, mas, segundo ele, com a estratificação das classes, onde a aristocracia reinvava sobre os camponeses, surgiu o politeísmo que, mais tarde, com a hierarquização dos deuses, deu espaço a um “deus supremo” e, consequentemente, as primeiras religiões monoteístas. A teoria atraiu muitos eruditos famosos que o apoiaram inicialmente. No entando, não demorou muito para sua ideia ser derrubada: Andrew Lang, o “discípulo favorito” de Taylor descobriu relatos de civilizações primitivas que criam no Deus Criador e publicou em 1898 no seu livro A Formação da Religião que o princípio fundamental de Taylor não tinha condições de manter-se. Embora a teoria de Taylor perdesse força até mesmo entre os filósofos e pensadores, ela continuou a servir como uma das bases para o comunismo e contina sendo ensinada como o principal fundamento do ateísmo. Afinal, Lênin afirma que “O programa de nosso partido foi inteiramente baseado numa visão científica e, portanto, materialista… Nosso programa… contém o desvendar da explicação histórica e cientfícia da origem do mistério religioso… Dessa forma, nosso programa contém necessariamente a propaganda do ateísmo.”

O mesmo livro conta algumas histórias que provam como Deus se revelou a povos distantes. Cito abaixo alguns exemplos:

  1. No sexto século antes de Cristo, por exemplo, havia uma praga em Atenas que não cessava embora eles oferecessem constantes sacrifícios aos seus incontáveis deuses. O conselho da cidade decide chamar um conselheiro da ilha de Creta chamado Epimênides na esperança de que ele pudesse dar uma solução de como apaziguar a ira divina. Depois de investigar acuradamente, o sábio sugeriu que poderia haver um deus desconhecido não representado por qualquer ídilo na cidade, que era suficientemente poderoso, bondoso e misericordioso para fazer alguma coisa com relação a praga se fosse invocado. Na manhã seguinte foi inciada a preparação, foi erguido altares escrito agnosto theo (ao deus desconhecido), e em cada um deles foi oferecido um sacrifício. No decorrer da semana os doentes foram sarados. Um dos altares foi preservado para posteridade. O interessante é que com uma enorme quantidade de divindade, Platão, Xenofonte e Aristóteles – três grandes filósofos – usaram o termo Theos como nome pessoal para um Deus Supremo em seus escritos (v. Exemplo, Enciclopédia Britânica, 15ª, v. 13, p. 951 e v. 14 p. 538). Dois séculos depois, os tradutores da septuaginta enfrentaram um problema para traduzir o termo hebraico de Deus Eloim. Eles rejeitaram o termo Zeus, bem como toda a divindade deles, pois se tratava de alguém que é incriado e adotaram o termo Theos para o Todo-poderoso. Paulo quando chega em Atenas, observa a idolatria local, mas encontra o altar “ao deus desconhecido” (At. 17:23) e não apenas faz referência a Deus (Theos), como o conecta a pessoa de Jesus ao afirmar “Pois esse que adorais sem conhecer é precisamente aquele que eu vos anuncio” (At 17:22-23). Paulo provavelmente conhecia as histórias de Epimênides, pois cita sua poesia para Tito quando diz “Foi mesmo dentre eles, um seu profeta que disse: Cretenses, sempre mentirosos, feras terríveis, ventres preguiçosos. Tal testemunho é exato. Repreende-os severamente para que sejam sadios na fé.” (Tito 1:12-13). Estas palavras são de um poema atribuído a Epimênides (Enciclopédia Britânica, Micropaedia, 15ª ed, v. 3, p. 924). Nesse discurso tiveram frutos, como Dionísio, o areopagita (At. 17:34). A tradição do segundo século diz que Dionísio mais tarde tornou-se o primeiro bispo de Atenas.
  2. De 1438 a 1471 d.C., Pachacuti levou o império inca ao seu apogeu: reconstruiu Cuzco, palácios, fortalezas, a famosa cidade de Matchu Pitchu e um novo templo dedicado a Inti – o sol. Em 1575, um sacerdote espanhol chamado Cristobel de Molina colecionou vários hinos incas provando que a divindade de Inti nem sempre se mostrou indiscutível. Alfred Metraux em sua obra A História dos Incas confirma a originalidade dos hinos e Philip Ainsworth em seu livro Os Incas comenta sobre o descontentamento de Pachacuti com Inti, ele escreveu: “ele ressaltou que esse corpo luminoso segue sempre um caminho determinado, realiza tarefas definidas e mantém horas certas como as de um trabalhador (…) e a radiação solar pode ser diminuída por qualquer nuvem que passe.” O imperador então se voltou ao conceito antiquíssimo de sua cultura: Viracocha – o Senhor, o Criador onipotente de todas as coisas. A descrição de Viracocha feita por Pachacuti pode ser resumida dr. B.C. Brundage: “Ele é antigo, remoto, supremo e não criado. Também não necessita de satisfação vulgar de um consorte. Ele se manifesta como uma trindade quando assim o deseja, … caso contrário, apenas guerreiros e arcanjos celestiais rodeiam a sua solidão. Ele criou todos os povos pela sua ‘palavra’ assim como todos os huacas (espíritos). Ele é o Destino do homem, ordenando seus dias e sustentando-o. É, na verdade, o princípio da vida, pois aquece os seres humanos através de seu filho criado. É ele quem traz a paz e a ordem. É abençoado em seu próprio ser e tem piedade da miséria humanda. Só ele julga e absolve os homens, capacitando-os a combater suas tendências perversas.”. Infelizmente, Pachacuti cedeu a diplomacia política, preocupado com a reação das massas e manteve a revelação apenas com a nobreza.
  3. Chineses mostram relatos da crença em Shang Ti – O Senhor do Céu de 2.600 anos a.C., e há relatos do povo prestar homenagens livremente até o começo da dinastia (1066-770 a.C) quando os líderes religiosos começaram a limitar a fé de tal modo que apenas o imperador fosse considerado “suficientemente bom” para adorar Shang Ti – e isso somente uma vez por ano. Quando o povo ficou proibido de render culto diretamente ao Criador, criou-se um vazio espiritual na China começaram novas doutrinas e pensamentos. Confúcio dizia “Ele está distante; é inacessível ao povo comum” e ensinava a devoção aos ancestrais, dando prioridade ao desenvolvimento de uma sociedade melhor aqui na terra. O taoísmo veio em seguida como outra alternativa e depois o budismo, que acabou tendo mais sucesso por mostrar-se disposto a fornecer deuses que os chineses podiam adorar.

Existem ainda relatos de como os santal da Índia aguardavam a manifestação do Deus Verdadeiro que havia criado o primeiro homem e a primeira mulher e que havia mandado um dilúvio, como o povo gedeo da Etiópica compartilhavam da crença no Criador onipotente de tudo quanto existe, como os mbaka da República Centro-Africana criam no Deus criador que mandou seu Filho realizar uma coisa maravilhosa em favor de toda a humanidade. São tantas as evidências de Deus se aproximando e se revelando a sua criação! Quando olhamos para a Bíblia então, temos a história mais conhecida que também é a que gerou o melhor fruto: Deus se aproxima de Abrão, manda ele sair da sua casa e ir para uma terra distante, muda seu nome, faz uma aliança com ele, diz que “em ti serão benditas todas as famílias da terra.” (Gênesis 12:3). Abraãao obedece a cada palavra de Deus, a família que ali nasce se torna um povo e, então, uma nação. Séculos mais tarde, numa população de cerca de meio milhão de pessoas. Israel é liberto da escravidão do Egito e Deus dá a Moisés dez mandamentos, cujo primeiro é:

“Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o Senhor, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.” (Êxodo 20:3-6).

Bastou um homem ouvir e obedecer e tudo foi preparado para a vinda de Jesus, para que o mistério de Deus fosse revelado (Efésios 1:9), toda sua lei permanecesse pela posteridade e toda humanidade tivesse esperança no único Deus Verdadeiro, que era, que é e sempre será.